Há mais de 25 anos que não se renovam geraçõesO Índice de Fecundidade tem vindo a diminuir em Portugal nos últimos 50 anos e desde 1982 que o número médio de nascimentos por mulher, em idade fértil, não assegura a renovação das gerações.
A nível nacional, os números revelam uma "realidade que compromete o futuro do país", afirma Maria Filomena Mendes, professora da Universidade de Évora (UE) e membro da comissão organizadora de um congresso, que decorre hoje.
"Em 1960, o Indicador Sintético de Fecundidade, que nos dá o número médio de filhos que cada mulher tem, era de 3,16 filhos por mulher", lembrou, observando que, em 1970, decresceu para 3,02 e, dez anos depois, já era de 2,26. Em 1990, diminuiu para 1,55, em 1995 para 1,41 e, em 2006, o número baixou ainda mais, para 1,35 filhos por mulher", indicou. Apenas se verificou uma inversão desta tendência em 2000, igualando o ano de 1990, período em que cada mulher teve, em média, 1,55 filhos.
"Nos anos a seguir à Expo 98, em que havia um grande volume de obras públicas a decorrer, logo mais oportunidades de trabalho, existia também mais confiança e expectativas em relação ao futuro, daí verificarem-se mais nascimentos", esclareceu Maria Filomena Mendes, em entrevista à agência Lusa.
A não renovação das gerações começou a verificar-se a partir de 1982, ano em que o Índice de Fecundidade baixou dos dois filhos por cada mulher. "Deparamo-nos com dois grandes problemas primeiro, são cada vez menos as gerações férteis, porque ao longo das décadas, consecutivamente, têm havido menos nascimentos", disse. O segundo problema, acrescentou, é que "as mulheres têm filhos cada vez mais tarde, próximo dos 30 anos, o que diminui a probabilidade de virem a ter mais filhos".
A manter-se esta tendência, avisou a docente, determinadas regiões do país, como o Alentejo, podem sofrer consequências graves. "No Alentejo, se a fecundidade se mantiver nos níveis dos últimos anos, daqui a meio século não teremos um número de nascimentos que assegure o funcionamento de uma maternidade", conjecturou.
O declínio da fecundidade vai ser debatido hoje na Universidade de Évora, na conferência "Horizontes da Fecundidade em Portugal das estratégias individuais ao futuro da sociedade", organizada em colaboração com a Associação Portuguesa de Demografia.
Texto de: Alfredo Cunha
Fonte: Jornal de Notícias